domingo, 28 de setembro de 2008

César e o estatuto de um político verdadeiro

Carlos César numa enytrevista ao semanário SOL afirma que o próximo será o seu último mandato. César está convencido que vai vencer as Regionais de 19 de Outubro. Desconfia, no entanto, que Cavaco Silva, na senda do seu anti-autonomismo, possa vetar politicamente o Estatuto Político Administrativo dos Açores, reaprovado por unanimidade na Assembleia da República.

Será que César não reza a todos os social-democratas, (inclusivé Mota Amaral) para que o Presidente vete politicamente o documento e para que o Tribunal Constitucional, vete a norma detestada por Cavaco?

César arrisca por isso dar o dito pelo não dito. Por que não igualar o seu antecessor, no domínio do poder autonómico? Até aos 20 anos, como MA?

Se a política não é uma escola de virtudes, importa, todavia, que os líderes cumpram a sua palavra perante o povo que os elegeu.

Se César cumprir o que disse, ficará na história da autonomia pelo seu importante contributo ao desenvolvimento das Ilhas, pelo rigor da sua administração e pelo cumprimento da palavra dada, qualidades que os eleitores muito apreciam e a história consagra.

sábado, 13 de setembro de 2008

HERANÇA

O meu avô escravo
legou-me estas ilhas incompletas
este mar e este céu.
As ilhas
por quererem ser navios
ficaram naufragadas
entre mar e céu.
Agora aqui vivo eu
e aqui hei-de morrer.
Meus sonhos
de asas desfeitas pelo sol da vida
deslocam-se como répteis sobre areia quente
e enroscam-se raivosos
no cordame petrificado da fragata
das mil partidas frustradas.
Ah meu avô escravo
como tu
eu também estou encarcerado
neste navio fantasma
eternamente encalhado
entre mar e céu.
Como tu também tenho a esmola do luar
e por amante
essa mulher de bruma, universal, fugaz,
que vai e vem
passeando à beira-mar
ou cavalgando sobre o dorso das borrascas
chamando,
chamando sempre,na voz do vento e das ondas.

Aguinaldo Fonseca [S. Vicente, 1922], in Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia), Nova Aguilar S. A., Rio de Janeiro, 2004