O meu avô escravo
legou-me estas ilhas incompletas
este mar e este céu. 
As ilhas
por quererem ser navios
ficaram naufragadas
entre mar e céu. 
Agora aqui vivo eu
e aqui hei-de morrer. 
Meus sonhos
de asas desfeitas pelo sol da vida
deslocam-se como répteis sobre areia quente
e enroscam-se raivosos
no cordame petrificado da fragata
das mil partidas frustradas. 
Ah meu avô escravo
como tu
eu também estou encarcerado
neste navio fantasma
eternamente encalhado
entre mar e céu. 
Como tu também tenho a esmola do luar
e por amante
essa mulher de bruma, universal, fugaz,
que vai e vem
passeando à beira-mar
ou cavalgando sobre o dorso das borrascas
chamando, 
chamando sempre,na voz do vento e das ondas. 
Aguinaldo Fonseca [S. Vicente, 1922], in Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia), Nova Aguilar S. A., Rio de Janeiro, 2004
sábado, 13 de setembro de 2008
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